sábado, 5 de agosto de 2017

A PEDRA FUNDAMENTAL DO MEMORIAL SERRA DA MESA



José Alves
Presidente da Fundação Serra da Mesa


2006...uma pedra fundamental foi afixada no solo marcando o início de um novo tempo. As velhas e imponentes árvores, com seus troncos retorcidos e belos, próprios do nosso rico cerrado, a que tudo assistiram, podem contar a história, e hoje, tenho muito tempo para ouvi-las, e elas querem falar! 
                   
Plantadas pelo Criador nesse lugar estratégico, viram todas as mudanças que em tão pouco tempo ocorreram. Passado e presente se encontram porém, não podem dar as mãos pois se distanciaram tanto... algumas cortadas, outras submersas, e outras viraram cinzas pelas queimadas. Assentado aqui, na entrada do Memorial, ouço-as gemendo e consigo entende-las contando tristemente a história  que presenciaram estando nesse mesmo lugar:  quando os primeiros habitantes, donos da terra que, por não terem  um papel que provassem a validade de seus direitos, tendo todavia o aval do Criador, foram expulsos; quando os rios cerceados de sua liberdade de trilhar seu caminho foi morrendo aos poucos, junto com toda pluralidade e  diversidade dos peixes e animais, aves e répteis que habitavam suas águas , rio que desaparece aos poucos como uma lágrima que seca ao escorrer pela minha face. Elas sentem falta dos animais que outrora corriam livremente, parindo suas crias e descansavam à sua sombra de galhos floridos e se alimentavam da doçura de seus frutos ímpares e tão desconhecidos ainda, tristemente os viram sendo guardados, mortos e mumificados, se transformando em peças do museu.

Sim...posso ouvi-las com seu canto triste narrando uma história passada e um presente doído sem perspectiva de futuro, enquanto o bicho homem não entender que ele morrerá na mesma velocidade com que destrói o que resta da natureza teremos que ouvir apenas lamentos dessas rainhas.

À porta do Memorial Serra da Mesa enquanto aguardo, as poucas pessoas que ainda amam essa riqueza que foi guardada com tanto amor e requinte, converso com elas... e vejo que se sentem bem quando alguém lhes dá atenção. Aqui, pelo menos, sabem que estão seguras e serão preservadas, portanto não correm o risco de desaparecerem no ar como pó.



Um comentário:

Anônimo disse...

Li ouvindo um dos sons do Cerrado: "Fim de tarde." Eloísa Revaldaves.