sábado, 20 de agosto de 2016

A SAGA DE ZECA BREJEIRO



Altair Sales Barbosa

Tá vendo aquele pequizeiro frondoso margeando o restinho que sobrou daquela vereda. Dizem que ali, bem ao lado daquela árvore existia um rancho de buriti. Nele vivia um moreno com a pele igual à cor de rapadura, conhecido como Zeca Brejeiro. Feroz trabalhador, inteligente e muito cheio das sapienças. 

Nos brejos, sem arrancar uma plantinha que ali nascia, ele cultivava feijão, mandioca, abóbora, cabaça e até arroz. Aqui e acolá, entre um ponto e outro da vereda, era comum ver alguns mamoeiros, cujos frutos serviam tanto para seu consumo, como também para os animais.



Era mestre em seguir as desconfiadas uruçus. De suas colméias, ele retirava, sem destruí-las, o mel para sua sobrevivência.

Também conhecia os segredos dos vegetais. Era comum ver vaqueiros transeuntes parados no seu rancho, solicitando ervas para curar alguma doença malinada. Entretanto, sua maior virtude era o dom da música. Ele era a própria essência dessa arte. Ele mesmo fazia suas rabequinhas e violas, usando pedaços de madeira, que já adormeciam por aqueles longínquos e intermináveis gerais. Para seu acabamento utilizava ferramentas rústicas, algumas fabricadas por ele mesmo, no limo da pedra de amolar.

Sua rabequinha tinha quatro cordas de tripa. Era usada apoiada no ombro esquerdo e com a voluta para baixo, quando a tocava irradiava no ar uma sonoridade fanhosa como o canto da acauã. Sua viola tinha cinco pares de cordas de arame, quando a dedilhava era como se ecoasse pelos ares uma orquestra de aves canoras.

Tanto a fanhosidade da rabeca, quanto a canoridade da viola deixavam o ar com um sabor adocicado, que entrava pelos ouvidos e acalentava a alma do vivente.


Contam que quando Zeca Brejeiro manejava seus instrumentos musicais, tudo em volta parava para ouvir a sua música. Os rios corriam mais serenos, os ventos deixavam de balançar as palmas do buriti, suçuapara esticava seu pescoço, que de longe se podiam avistar as galhadas, só para apreciar aquela melodia, suçuarana encostava a barriga na relva fresca e descansava no leito da vereda. Lobo Guará levantava as orelhas igual favas de xixá, para ouvir as boas notas que recheavam o ar. Arara, periquito, papagaio, juriti, tudo se aquietava, na hora que Zeca Brejeiro tocava.
Um belo dia, rompe naquelas redondezas um som diferente, não era o som dos ventos, que freqüentemente redemoniavam as relvas dos gerais, nem a cachoeira, rugindo nas pedreiras, também não era o grunhindo dos queixadas, nem o esturro da onça pintada. Era o roncar de um trator puxando uma carreta recheada com bolas de arame farpado.

Zeca Brejeiro mirando desconfiado aquela cena, pensou consigo mesmo: - deve ser o tal do grileiro, que certa vez Lídio vaqueiro me contou. Lembrou que Lídio também lhe havia dito, que este tipo de gente procura apossar-se de grande quantidade de terras, mediante falsas escrituras de propriedade, que adquirem subornando os cartórios.

Não era o grileiro, era apenas um de seus representantes. No outro dia foi chegando mais gente e mais máquinas, que se avolumavam ao sabor do tempo. Tudo isso acontecendo com desprezo à existência de Zeca Brejeiro.

Logo surgiram cercas longas, maiores que as curvas das veredas. As máquinas que chegaram, não perderam tempo, de imediato, foram atirando ao chão pedaços daquela vastidão, que os dias se responsabilizavam para aumentar cada vez mais os hectares degradados.

Zeca Brejeiro tentou por diversas vezes reagir, mas era ignorado e ridicularizado pelos capatazes do misterioso grileiro.



Um dia, saiu bem cedo para coletar mel de uruçu, quando retornou, seu rancho havia sido sapecado, qual a penugem de um capão sendo preparado para uma senhora em época de resguardo. Por sorte, sua rabequinha e sua viola que estavam num saco de meia dependurado num dos galhos do pequizeiro, não foram atingidas pelas chamas devoradoras. 

Contam que quando Zeca Brejeiro viu aquela cena, ficou imóvel, não teve reação de desespero, apenas se ajoelhou, balbucionou alguma oração onde entre uma frase e outra se ouvia: - Sei que a noite é uma senhora, logo chegará o amanhecer!

Tomou pelas mãos o saco de meia, com os instrumentos, e cuidadosamente o alojou no dorso e saiu pelos brejos adentro daquela vereda.

Ninguém mais tem notícias suas. Se é vivo ou se morreu, ninguém sabe.

Apois se conta ainda hoje que um velho vaqueiro atrevido que por aquelas bandas passava, trouxe a notícia que todas aquelas plantas foram atiradas ao chão e que por ironia do destino só sobrou o velho pequizeiro. Este vaqueiro disse também que se arrepiou todo, quando um pé-de-vento soprou os galhos daquela árvore, pois estes rangiam tal qual o som da rabequinha de Zeca Brejeiro.



sábado, 6 de agosto de 2016

A MARCHA DO FOGO SIMBÓLICO




Aderbal José de Souza
Texto extraído da obra: Memorias de Alvorada do Norte 

O ano de 1960 foi marcado por vários acontecimentos importantes, sobretudo nacionalmente. Entre tais acontecimentos, podemos citar a passagem do Fogo Simbólico pelo nordeste goiano, a inauguração de Brasília, juntamente com todas as rodovias e demais obras de integração nacional, bem como eleições majoritárias em todo o país, além de tantos outros fatos históricos que marcaram aquela década.


A tocha simbólica cívica partiu da cidade de Salvador, primeira capital do Brasil, sendo conduzida a pé por atletas que atravessaram em marcha os gerais e campinas, passando por todas as cidades que conduziam a Brasília, denominada de Capital da Esperança, até a entrega que foi efetivada no dia da inauguração, a 21 de abril de 1960.

O Fogo Simbólico era solenemente conduzido sobre punhos erguidos dos atletas marchando em ritmo de trote. O condutor da tocha não podia caminhar, e muito menos parar durante a marcha do dia. Um transportador de passageiros — uma velha jardineira ou mesmo um caminhão pau-de-arara — conduzia atletas de reserva para a constante substituição, sem qualquer interrupção da marcha.


Os maratonistas só podiam parar à noite nos pontos certos de hospedagem. Mesmo assim, revezava-se em guarda noturna, na ausência de policiais para as sentinelas.

A tocha simbólica só podia ser conduzida a pé, e por nenhum outro meio de transporte. Ela devia ser mantida constantemente acesa durante todo o percurso, como aconteceu, desde o ponto de partida em Salvador até seu destino final em Brasília. A caravana de atletas fazia a entrega da tocha a outra caravana, que a esperava com a incumbência de transportá-la até a sede do município mais próximo.

 A última cidade do território baiano que o Fogo Simbólico deixou foi Correntina, a qual fez a entrega da comenda à primeira cidade do território goiano, ou seja, Posse, onde a labareda foi recebida em palanque armado na praça principal da cidade, entre discursos e foguetórios, numa noite festiva.  Na manhã seguinte, partiu-se para Mambaí (antigo Riachão), onde aconteceu a mesma cerimônia; em seguida, para Damianópolis (antiga Catarina); depois para Sítio d’Abadia e Formosa; e, afinal, Planaltina última cidade goiana, hoje incorporada ao Distrito Federal. 


O Fogo Simbólico foi recebido em Brasília para compor a programação das atividades de inauguração da nova capital da República, sendo colocado num pedestal que ficava na Praça dos Três Poderes, onde permaneceu por algum tempo. 
Este autor foi testemunha ocular da marcha do Fogo Simbólico tanto na cidade de Posse quanto na Praça dos Três Poderes, em Brasília, até quando foi substituído e colocado em outro pedestal, sob o nome Chama do Panteão.



Incidente paralelo

Juntamente com meu pai Lourenço José de Souza e meus tios José Francisco de Souza (Zé Aprígio) e Rodolfo José de Souza, este ainda jovem, estávamos na cidade de Posse quando da passagem do Fogo Simbólico, em abril de 1960. Tínhamos partido de Mambaí, onde ficara meu tio Arlindo José de Souza, o qual não nos pôde acompanhar na empreitada de compra de bois que fazíamos na região, tendo Posse como ponto de referência, onde Costumávamos arrebanhar o gado faisqueiro e a tropa de animais de montaria.

Um episódio fatídico ficou marcado em nossas mentes. Após assistirmos ao cerimonial da chegada da Tocha Simbólica, lá pela meia-noite regressamos ao nosso acampamento que ficava na periferia da cidade. Exaustos e sonolentos, deitamo-nos quase amontoados uns sobre os outros em um velho catre, sem observar que um estranho homem ali ao lado encontrava-se adormecido num banco tosco de madeira. Era certamente um desconhecido peão que havia procurado o mesmo pouso e estava ali, coberto dos pés à cabeça, protegendo-se do intenso frio do mês de abril.



Meu genitor Lourenço tinha-se deitado ao lado da parede, eu no centro da cama e meu tio Rodolfo estava voltado para o lado onde dormia o forasteiro. Já pela madrugada, o estranho hóspede sacou uma grande faca peixeira e, aos gritos pavorosos, partiu para cima do nosso leito, despertando-nos assustadoramente. Em uma fração de minuto, desferiu vários golpes certeiros no jovem tio Rodolfo, com tamanha rapidez que, antes de abrirmos os olhos, já o havia atingido com quatorze facadas cravadas em seu frágil corpo, três delas mortais, localizadas no tórax do lado das costas e as demais distribuídas na cabeça e nos membros inferiores. Em desespero, meu pai partiu rapidamente para cima do desconhecido com um revólver-38 na mão, também aos gritos. Ao contermos o agressor, notamos que se tratava de um sonâmbulo, o qual acordou jogando imediatamente a faca debaixo da mesa, já implorando por clemência. O atingido tio Rodolfo, já combalido, rondava pela casa, sedento pela ânsia, à procura de água para ingerir, jorrando sangue por um dos orifícios abertos no seu pulmão, que borbulhava ao respirar.

 Conduzimos a vítima nos braços até o centro da cidade à busca de socorro, ao mesmo tempo contendo o autor do atentado, que tentou empreender em fuga por várias vezes. Contamos com o auxílio do conterrâneo Edvaldo, que residia em Posse, na angustiosa busca de socorro médico, ato contínuo, tentamos localizar a delegacia de polícia onde entregamos o infeliz sonâmbulo a um carcereiro para ali pernoitar até o dia seguinte, quando tudo seria explicado ao delegado. Para nossa surpresa, naquela fatídica madrugada, meu tio ainda seria vítima da omissão de socorro do único médico existente na cidade. O médico que parecia estar de ressaca, apenas olhou o paciente e sentenciou que não estaria vivo até o amanhecer do dia, pedindo-nos que o retirássemos dali, sem nos dar qualquer esperança. Diante dessas circunstâncias, poderíamos deduzir que o agente da fatalidade teria feito do meu tio também uma vítima do Fogo Simbólico. Entretanto, antes do amanhecer, meu pai determinou que eu arreasse um dos nossos animais mais rápidos para ir ao encalço do tio Zé Aprígio, que se encontrava na fazenda Atoleiro, a uns vinte quilômetros. Logo ficamos sabendo que havia um avião monomotor sendo esperado para transportar uma pessoa de importante família de Posse, a qual generosamente nos cedeu o táxi aéreo, levando tio Rodolfo até Brasília. Ao aproximar-se do aeroporto, o piloto comunicou-se por rádio pedindo um táxi, que prontamente o esperou e o conduziu para ser socorrido, como de fato o foi, no recém-inaugurado Hospital de Base, onde permaneceu internado até sua recuperação.

Do apartamento do hospital, meu tio Rodolfo assistiu a toda a movimentação barulhenta da grande festa da inauguração da nova capital da República, no dia 21 de abril de 1960, onde havia chegado e se encontrava exposta, na Esplanada dos Ministérios, a chama do Fogo Simbólico, que lhe reacendia a esperança de voltar com vida para sua terra natal.



MITO DA MANDIOCA



Altair Sales Barbosa

Conta uma antiga narrativa dos índios Pareci, atualmente habitando no Estado de Mato Grosso, que quando estes ainda viviam em abrigos rochosos e não tinham aprendido as técnicas da agricultura, um índio por nome de Zatiamare e sua mulher Kôkôtêrô tiveram um casal de filhos gêmeos, o menino nasceu com a cor da pele de seus pais, mas a menina era toda branca.

Deram ao menino o nome de Zôkôôiê e à menina o nome de Atiôlô. Desde muito cedo o pai desprezava a menina e dispensava todo carinho ao filho. Nunca dirigiu uma palavra à menina, sempre lhe respondia por meio de assobios.

O tempo foi passando, até que um dia Atiôlô, cansada daquela situação, pediu a sua mãe que a enterrasse viva. Depois de muita resistência Kôkôtêrô resolveu atender ao desejo da filha. Esta para convencer a mãe disse:
-  Se a senhora atender ao meu pedido fará uma grande ação para nosso povo.

Kôkôtêrô então saiu com a filha Atiôlô e cavou uma cova bem no meio do cerrado. Foi quando Atiôlô falou:

- Neste lugar a terra não é boa para a planta que eu quero. E, eu sofrerei muito com o calor.

Kôkôtêrô procurou então outro local e levou a filha para uma campina. Atiôlô novamente pediu à mãe que a levasse para um local mais fresco.

Kôkôtêrô cavou então uma cova no meio da mata. Atiôlô pode então dizer:

- Aqui está bom, volte para a aldeia e quando eu gritar não olhe para traz.

Depois de muito tempo Kôkôtêrô, ouviu um grito muito forte. A mãe então correu ao local onde enterrara a filha. Ao chegar, avistou um arbusto. Esta então o puxou com força e viu suas raízes todas branquinhas, igual a filha. Era a mandioca.




Obs.: esta narrativa sobre a origem da mandioca é encontrada entre vários povos indígenas. Porém, há variações em sua narração, prevalecendo apenas o foco central do sepultamento. 

Informações Botânicas

A mandioca é um recurso vegetal classificado como pertencente a Classe das Dicotiledôneas, à Ordem Euphorbiales, à Familia Euphorbiaceae e ao Gênero Manihot.

Existem várias espécies de outras plantas pertencentes ao gênero Manihot, entretanto a espécie comestível que nós conhecemos é classificada como Manihot esculenta (Crantz). Anteriormente na literatura mais antiga, recebia a denominação de Manihot utilíssima, classificação de Phol. Esta classificação foi substituída pela de Crantz.

A planta é representada por um arbusto, que armazena tanto nos caules como nas folhas, glicosídeos cianogênicos, mas esta concentração é variável de subespécie para subespécie, de região para região, dependendo das condições do solo.

Entre os glicosídeos cianogênicos o mais comum e abundante é a linamarina que é produzida nas folhas e transportada até as raízes. Nas raízes a linamarina em contato com uma enzima denominada linamarase, libera um ácido denominado cianídrico, que dependendo da quantidade, faz o gosto da mandioca se tornar mais amargo ou mais doce.

Daí surge a denominação de mandioca amarga ou brava e mandioca doce ou mansa, conhecida em algumas regiões do Brasil pelas denominações de aipim, macaxeira etc.

Quando a concentração do ácido anídrico for excessiva a mandioca é tóxica para o consumo humano. Mas felizmente o ácido anídrico é muito volátil e perde rapidamente com o cozimento da mandioca ou sua exposição ao sol. Por isso embora haja diferenças populares para classificar a mandioca como mansa ou brava etc, sua classificação científica é uma só, como já foi mencionado Manihot esculenta. Também atualmente é conhecida apenas uma subespécie denominada esculenta. Portanto, a mandioca que é utilizada na culinária brasileira é classificada cientificamente como Manihot esculenta esculenta.

A população brasileira inclina-se a utilizar mais a mandioca mansa para o consumo “natural” e cotidiano. Ao passo que utiliza a mandioca brava para processar inúmeros produtos, também consumidos pelo homem, mas após pequeno procedimento industrial, que exige exposição ao sol ou processamento ao forno.

Produtos da Mandioca

Maniquera ou Manicuera
É uma aguardente que se extrai da mandioca ralada e fermentada. É destilada em alambique de barro ou cobre, tem excelente sabor e seu teor alcoólico fica entre 38o a 40o.



Maniçoba
Prato preparado com folhas novas de mandioca, em seguida pisadas num pilão e espremidas para se obter um caldo. O caldo é cozido com toucinho ou carne com pedaços de ossos. Há variações regionais, com modificações de alguns ingredientes e de carnes. O segredo do prato é deixar cozinhar por longo tempo.



Crueira
Raspa de mandioca brava, desidratada ao sol em um girau. Após totalmente seca as raspas são trituradas em um pilão e peneiradas, resultando num tipo de amido, que é dissolvido na água quente formando um mingau ralo, recebendo o nome de chotão, utilizado na alimentação infantil com auxílio de mamadeira. A crueira também usada para fazer cremes, papas, bolos, pudins etc.





Beijús
Espécie de pão do sertão, feito da massa ralada e torrada da mandioca, bem como do amido. Há vários tipos:

Beijú de Massa – Feito da massa grossa da mandioca, que é torrada em forno de pedra ou caçarola. Os indígenas usavam vasilhames de cerâmica, sem corpo, para processarem esse tipo de beijú.

Beijuzinhos – Também feitos da massa grossa da mandioca. São pequenos e modelados com as mãos. Depois de torrados ao forno de pedra, podem ser consumidos de imediato, mas geralmente eram guardados em “tuias” junto com a farinha de mandioca, para época de penúria, como reserva alimentícia.


Beijú de Lenço – Trata-se de um beiju refinado, feito de polvilho úmido, peneirado em peneira de malha fina, numa frigideira ou vasilhame raso de cerâmica, onde é torrado e dobrado imitando um lenço de bolso de paletó.

Pão-de-Índio
Grande quantidade de farinha torrada, envolta por uma camada de argila, formando uma grande bola que é coloca ao sol para secar. Após este processo a bola é enterrada em lugar seco e aí pode passar longos períodos. Em ocasiões de muita escassez, os indígenas retiram a bola e depois de fragmentá-la, a jogam numa grande vasilha com água (pode ser de cerâmica, um cocho de madeira ou mesmo uma pequena represa). A argila por ser pesada, vai para o fundo da água e a farinha flutua. Esta então é recolhida com carinho, torrada novamente e utilizada para consumo.


Polvilho
Em algumas regiões do Brasil este produto recebe também o nome de tapioca. O polvilho pode ser produzido tanto da mandioca mansa quanto da mandioca brava.

O processo de produção inicia-se com a mandioca descascada e ralada. Após este procedimento coloca-se a massa em um pano de algodão, este é amarrado nos quatro cantos formando uma espécie de rede. A massa é colocada aos poucos e lavada com água, sempre na medida adequada. O caldo é aparado num vasilhame grande, colocado abaixo da rede.

A parte pesada desse líquido leitoso (amido) vai para o fundo do vasilhame. No dia seguinte é retirada a água com cuidado, ficando apenas o amido.

Em seguida, com auxílio de uma espátula feita de madeira, retira-se com cuidado a parte superior do amido, que se chama lodo. Ele é um pouco escuro, meio marrom esverdeado (que após seco, serve para fazer sabão).

O amido mais claro é retirado e novamente lavado passando no pano como na etapa anterior. No dia seguinte, retira-se a água. Se ainda tiver lodo, novamente é retirado.

Com auxílio de uma espátula retira-se o polvilho em pedaços grandes, colocando estes esparramados sobre um girau, forrado com pano de algodão. Deixe ao sol para evaporação da água. Antes que seque totalmente, este é quebrado e passado em uma peneira fina.  Devolva o polvilho peneirado para o girau, cubra com um pano e deixe-o secar totalmente, revirando-o algumas vezes até que fique totalmente seco. Pode ser armazenado por muito tempo.

Polvilho Azedo
O polvilho azedo é produzido da mesma forma. A diferença é que o polvilho doce fica na água apenas 1 dia e o polvilho azedo é deixado na água para fermentar por 15 a 20 dias, dependendo da temperatura da região.
Ambos os produtos geram inúmeros subprodutos, que são usados em sobremesas, quitandas e outros complementos alimentares.


Puba
A puba é um produto feito principalmente da mandioca “brava”. Os tubérculos após descascados são cortados em tamanho médio de 10 a 15 cm e colocados num vasilhame com água para fermentação. Após a concretização desta, os pedaços são colocados para secarem sobre um girau, ao sol. Após totalmente secos os pedaços são triturados manualmente e esfregados em peneira para obtenção do produto que recebe o nome de puba. Dependendo do tamanho da malha, obtém-se um produto mais fino ou mais grosso. 

Este tipo de produto, com granulação variada, uma vez torrado origina-se a farinha de puba, muito apreciada nos cardápios com peixes. A puba gera uma infinidade de subprodutos, dependendo da criatividade, como sorvetes, bolos, biscoitos etc.


Farinha de Mandioca
O processo de produção da farinha, inicia-se com a mandioca descascada e ralada. A massa da mandioca deve ser levada a uma prensa que pode ser um tapiti ou tipiti, instrumento tubular feito de folhas de palmeiras trançadas. Após encher o tapiti, prende a parte superior deste em um gancho no alto e na inferior coloca uma pedra, para que este fique bem esticado. Também se utiliza um pedaço de madeira para torcê-lo e fazer sair o excesso de liquido. Outra forma é a utilização de um recipiente, cuja parte superior funciona como uma prensa.

Depois de algumas horas, retira a massa da prensa ou do tapiti, passe-a por uma peneira e leve ao forno apropriado para torrar a farinha, mexendo sempre com uma enxada de madeira, até estar totalmente seca e levemente dourada.
Massa da Mandioca
A massa da mandioca é o produto oriundo da mandioca ralada. Desse produto deriva uma infinidade de outros, desde a própria farinha, o polvilho, a cachaça etc.

Como pode-se observar a mandioca fornece inúmeros produtos que podem ser chamados de produtos primários, aqueles resultantes do primeiro processamento e produtos secundários resultantes da transformação dos produtos                            primários. 


Alguns são famosos na culinária brasileira como por exemplo o mané-pelado, bolo feito à partir da massa da mandioca; a peta biscoito feito tanto do polvilho doce, como azedo e assado ao forno; pão de queijo; biscoito de queijo; biscoito frito, cuja massa é frita em gordura quente; paçoca de carne seca, feita no pilão cujos ingredientes são carne seca frita com temperos e farinha de mandioca. 

Além desses, dos produtos secundários pode se fazer desde mingaus, sagus, inúmeras espécies de quitandas e até uma espécie de cola denominada goma ou grude utilizada para colar utensílios e fixar corantes minerais na preparação de tintas.  

 A mandioca ainda pode ser consumida cozida ou frita e acompanhar diversos ingredientes em pratos da culinária brasileira.