sábado, 5 de dezembro de 2009

No centro do retrocesso e na contra–mão da história

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Diante da falência e da inutilidade do sistema universitário privado brasileiro, com raras exceções, muitas Universidades, incapazes de proporem idéias e métodos altamente inovadores ou mesmo revolucionários, tentam cobrir a ferida com esparadrapo como se isso bastasse para curar as enfermidades. Essas Universidades, não são capazes de atrair e prender a sua clientela pela competência e utilidade dos cursos oferecidos, também não são capazes de cultivar um novo tipo de saber para superar a alienação e preparar as pessoas para uma realidade globalizada, muito pelo contrário preferem mergulhar em reformas retrógradas, com organogramas pomposos como se isto fôsse sinônimo de qualidade.

Como reflexo dessa mentalidade, algumas Universidades estão cultivando a possibilidade de aglutinarem seus cursos e atividades em grandes áreas de conhecimento que se denominam CENTROS, sustentados em argumentos ilusórios do economicismo. Na prática, a funcionalidade deste sistema impede a inter-relação entre os saberes, e, como consequência, acentua o processo de alienação. Diante de tal situação e dentro dos parâmetros do embate científico/ideológico, no bom sentido, ficamos a indagar:
Será que deixamos a Utopia acabar?
Será que a alienação é um problema do passado ou da contemporaneidade?
Ainda é possível resolver as questões da vida, que é a libertação de todas as prisões culturais, ideológicas e intelectuais que mantém o Homem em situação desumanizada?
Será o homem capaz ainda de desenvolver toda a sua humanidade e varrer de vez a alienação?

A grande maioria dos estudos contemporâneos, apontam que a raiz dos males da sociedade moderna reside na dicotomia Homem-Natureza, que por sua vez é a base na qual está a essência da cultura ocidental. Esse é o grande paradigma da contemporaneidade. Muitos homens de visão e organismos internacionais, incluindo a própria ONU, procuram soluções para os problemas advindos deste modelo. Os vetores apontam com muita segurança que a holistização do saber é um caminho forte para se construir uma sociedade igualitária.

O geógrafo e pensador Ruy Moreira, leva-nos a refletir para entendermos esse universo, ressaltando três pontos importantes que caraterizam a cultura ocidental e que hoje, por força da globalização, atinge todo o mundo.

O primeiro ponto, refere a DESNATURIZAÇÃO DO HOMEM, cuja origem está associada ao monoteísmo da cultura Judaica, porque com o monoteísmo nasce a noção do indivíduo que tem poderes para dialogar diretamente com a divindade, separando o eu do corpo e criando a noção de natureza humana e natureza externa.

Ao longo da Idade Média a DESNATURIZAÇÃO vai ser sedimentada e no Renascimento é radicalizada, quando o pensamento científico é sistematizado. A natureza é tratada como um corpo externo, surgindo assim os limites entre os saberes, como por exemplo Ciências Humanas X Ciências Naturais. Os limites entre as ciências são paradigmas da modernidade, que nasce com a desnaturização do homem e se constitui no primeiro passo para a alienação. A noção de indivíduo é reforçada e traz como conseqüência a noção de propriedade privada. Nota-se que é o próprio capitalismo quem está nascendo.

Com as modificações produzidas pelas revoluções industriais, um outro fator acontece: êxodo forçado, a saída do homem do campo. Num primeiro estágio, esse fenômeno denominado DESTERREAÇÃO atinge as famílias camponesas tradicionais que moldaram a nossa ruralidade regional. Com o incremento da tecnologia e o avanço do capital, são comunidades inteiras que hoje são desestruturadas e desabrigadas, criando o fenômeno da DESTERRITORIALIZAÇÃO.

A DESTERRITORIALIZAÇÃO traz para nossas portas a categoria dos SEM (Sem-Terra, Sem-Teto, Sem-Emprego, Sem-Pátria, Sem-Documentos, etc). Esse fenômeno acentua ainda mais a sensação e condição de alienação e, é justamente isto que cria um mal-estar dentro da Universidade, gerando uma sensação de inutilidade.

A ciência não consegue mais explicar os acontecimentos porque os paradigmas explodiram.

A busca de respostas que possam originar o convívio entre os homens, o desenvolvimento humano, de forma a preservar os recursos naturais para gerações futuras, vem sendo intensificados desde 1972, na Conferência de Estocolmo, com representantes de 113 países, 19 órgãos intergovernamentais e 400 organizações intergovernamentais e não governamentais, contribuíram para fomentação de questões relativas à preservação ambiental e o desenvolvimento da qualidade de vida. Esta conferência lançaria “um novo movimento de libertação” que, segundo alguns, só poderia ser alcançado cultivando um novo tipo de saber, calcado na pesquisa e integração das diversas áreas do conhecimento. Este grito de alerta lançado pela ONU, continuou nos anos posteriores e chega até os dias atuais com a organização de vários fóruns sociais promovidos tanto por organismos governamentais, como pela sociedade civil, todos empenhados na busca de um novo tipo de saber capaz de promover o retorno da NATURIZAÇÃO DO HOMEM. Para tanto é fundamental que as Universidades que se configuraram como uma caixa aglutinadora de conhecimentos, procurarem a sua própria essência que corresponde a sua origem latina UNIVERSITAS UNIVERSITATIS, ou seja, a Unidade na Diversidade.

A criação de Centros que estabelecem limites fictícios entre os diversos saberes transformam, na prática, a Universidade em PLURIUNIVERSIDADE, constituída de CENTROS AUTÔNOMOS, onde pontificam a pretensiosidade da cátedra, “curricula” estanques; métodos empíricos e desconhecimento da interdisciplinaridade. Mas o mal pior é que com a criação de Centros autônomos e estanques, a Universidade se coloca na contra-mão da história, se posicionando contra todo o mundo que enxerga na busca de um novo conceito de saber, a solução para superar a alienação das pessoas e resolver as questões da vida que, como já foi dito, constitui na libertação de todas prisões culturais, ideológicas e intelectuais que mantém o homem em situação desumanizada. Parece que a força do economicismo está irradiando um tipo de fraqueza entre os que querem mudar esta realidade.

“Depois que chegou a estrada de asfalto era bom continuar pra lá e ir cuidando no caminho. A estrada que dizem que chegou, estava era indo. Daqui pra lá foi gente, veio coisa. Foi crença, veio nada.”
( Larissa Malty).

Prof. Dr. Altair Sales Barbosa
Professor Titular da PUC-GO – Instituto do Trópico Subúmido e HGSR